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Foto do escritorValderi da Silva

Um violinista no telhado

Vai parecer um tanto estranho para algumas pessoas o que vou dizer, até porque eu mesmo encontro-me surpreendido pelo fato de assistir num filme que narra a vida de algumas pessoas de fé judaica, a harmonia e força daquilo que sempre espero encontrar ressaltado no cristianismo.


O filme Um Violinista no Telhado (Diretor Norman Jewison, 1971, EUA) apresenta vários pontos interessantes a serem refletidos, além do contexto histórico onde coloca-se a narração da trama. De fato, trata-se de um momento e local muito conturbados pelas anarquias oriundas dos ideais revolucionários, que marcaram o destino da Rússia czarina e de quem vivia ali, como este povo da pequena vila Anatevka. Um povoado formado por famílias judaicas e cristãs ortodoxas, mas que viviam separadas, cada etnia religiosa em um canto da vila, o que não significava que houvesse conflitos entre estes, ao que pareceu.

Tevye, o leiteiro

Neste filme, o estilo é de narração com auto reflexão, onde o estilo musical aparece em vários momentos da trama. O personagem principal não é um violinista, como se poderia imaginar pelo título, mas um pobre e trabalhador leiteiro, pai de quatro filhas e casado com Godel, sua esposa tão preocupada com o futuro destas filhas. O leiteiro, ou melhor, Tevye, narra os acontecimentos ao mesmo tempo que explica uma das mensagens principais desta produção, o equilíbrio que as tradições oferecem na vida de pessoas simples diante de tantos desafios cotidianos.


Parece que dá para entender a analogia com um violinista no telhado, que equilibra-se sobre as telhas em nível descendente enquanto tenta executar uma bela canção. Uma analogia que tenta expressar não somente a utilidade das tradições passadas ao longo dos tempos, mas que também pode falar do equilíbrio que o indivíduo deve buscar na vida, tendo a consciência da belíssima canção que deve executar mesmo tendo debaixo de seus pés, ou diante de seu projetos pessoais, vários tropeços, terreno irregular, contrariedades pessoais, familiar e social, assim como Tevye representa neste filme com sua própria vida. As tradições servem como o arco deste violino, que ao ser manuseado harmonicamente, resulta em força, satisfação e ânimo para seguir, para continuar. Poderia-se dizer também que, pelas tradições conservadas e vividas, o próprio sentido da vida recebe fôlego diante do mal que pode corroê-lo.


Um filme extraordinário, com toda a certeza. E não exaltando os méritos de uma religião sobre a cristã, aponto a clareza com que podemos considerar a necessária tomada de posição contra a aniquilação das tradições seculares e milenares que formaram especialmente nossa cultura ocidental. Nelas, podemos alimentar o fôlego da vida, como Tevye sempre fez, mesmo diante da própria desventura familiar.




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