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O panorama da vida: uma análise em "Olhai os lírios do campo"

“A gentileza podia melhorar o mundo. Se os homens cultivasse a gentileza seria possível atenuar um pouco tudo quanto a vida tinha de áspero e brutal” (Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo)

Uma frase aparentemente simpática e de fácil concordância, é o que lemos nestas palavras inseridas na obra de Érico Veríssimo. Afinal, quem vai negar em sã consciência a validade da boa educação para uma vida equilibrada e longe da brutalidade e selvageria do ser humano que, sem educação, volta à reminiscência dos ancestrais. Mas esta frase merece mais do que simplesmente uma concordância de nossa parte, pois revela mais que uma consensual aceitação de algo valoroso.


Na obra de Veríssimo em questão, encontramos alguns personagens situados na época de avanço dos exércitos alemães sobre as comunidades judaicas, além de todo o caldeirão de notícias sobre a guerra que já se travava na Europa a fim de deter o Reich alemão. É com isto que os personagens soltam diálogos vazios de convicção, mas repletos de impressões superficiais sobre si e sobre as situações que a trama nos vai apresentando. Além disso, a própria sociedade daquela metade do século XX já manifestava um arrombo entusiástico com qualquer novidade que aparecia sem a necessária interiorização considerando a cultura e a sabedoria já desenvolvida até o momento. Momento de superficialidades, poderia se dizer, o que se refletia muito na chamada “alta sociedade”, que popularizou a ideia de que o importante é conseguir dinheiro e gastá-lo sem pudor.


Na frase tirada da obra de Veríssimo duas afirmações são evidentes: a de que o mundo é brutal e que a vida é naturalmente difícil; e a de que é possível haver algo que o ser humano possa fazer para diminuir esta aspereza e dificuldade.


É uma visão que beira ao pessimismo naturalista, esta de que a vida é naturalmente difícil, o que pode facilmente levar a crer também que a vida é naturalmente má. A conceituação pessimista da vida, estreita a visão de tal forma que não enxergamos outras coisas senão os obstáculos para aquilo que julgamos necessários para o nosso viver, ou o nosso bem viver. Por isso, ser tão fácil diante deste tipo de panorama chegar também a conclusão de que a vida é naturalmente má, pois vivemos e trabalhamos e conseguimos ver somente as dificuldades, até muitas delas se tornarem barreiras intransponíveis. Quem puder ler a obra de Veríssimo perceberá no personagem principal o exemplo do ser humano que viveu boa parte da sua vida neste panorama estreito, onde quase perdeu definitivamente tudo por conta da impossibilidade que ele mesmo edificou com a estreiteza de compreensão.


Deve-se perceber que não se trata somente de uma “maneira de ver a vida”, se trata de um movimento interior que precisa ser alavancado pela razão, pois não encontrará outra força ordinária capaz de fazer o indivíduo sair desta situação.


Quando se afirma que o ser humano é capaz de fazer algo para diminuir esta aspereza da vida, devemos entender que esta envolvido aqui a própria capacidade do ser humano em decidir guiar-se pela faculdade racional que possui para romper a escravidão das “visões estreitas” a que pode estar preso. Na vida prática muitas ações, grandes e pequenas, podem contribuir para isso, sendo uma delas - talvez pequena - a gentileza, que descreve o autor neste trecho aqui analisado. Percebamos que a educação é resultado de uma ação, a ação de educar, que vai moldando o espírito e a visão do ser humano, alargando seu horizonte, especialmente para a percepção de que ele, indivíduo, não é único e muito menos destinado a um modo de viver, como se estivesse em alguma “espiral de costumes” predestinada.


O que vejo nesta afirmação da gentileza como atenuante à crueldade e às dificuldades deste mundo, é a clara necessidade de sensibilizar o espírito humano, de evoluí-lo através de meios como a educação, pois o ato de ser gentil só surge da compreensão alargada da vida humana, fora dos estreitos movimentos padronizados de vida, que não revelam "vida" nem fundamento.

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Valderi da Silva

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